Com carros apreendidos, prisão e renúncia de Oliver Oakes, equipe é investigada por manter negócios ligados ao oligarca russo Dmitry Mazepin, driblando sanções internacionais
Um dos maiores nomes do automobilismo de base, a Hitech GP, está no centro de um escândalo internacional que envolve suspeitas de lavagem de dinheiro, vínculos com oligarcas russos sancionados, e o uso da equipe como fachada para manter ativos ilegais na Europa. A crise eclodiu em maio de 2025, com desdobramentos que podem impactar diretamente as temporadas da Fórmula 2 e Fórmula 3 da FIA.
As autoridades britânicas e europeias investigam a relação entre os irmãos Oliver e William Oakes e o bilionário Dmitry Mazepin, pai do ex-piloto da Haas, Nikita Mazepin. A suspeita é que a estrutura da equipe tenha sido usada para burlar sanções internacionais impostas após a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Fundada em 2014 por Oliver Oakes e David Hayle, a Hitech GP rapidamente se consolidou como uma potência nas categorias de base do automobilismo mundial. Com atuações destacadas na Fórmula 4, Fórmula 3 e Fórmula 2, a equipe britânica revelou talentos, acumulou vitórias e chegou a flertar com a Fórmula 1.
Em 2016, a Hitech entrou numa nova fase ao vender 75% de suas ações para Dmitry Mazepin, empresário russo do setor petroquímico e pai do piloto Nikita Mazepin. Com o apoio financeiro do oligarca, a equipe passou a contar com estruturas de ponta e um projeto ambicioso que visava, eventualmente, alcançar a elite do automobilismo.
Tudo começou a desmoronar em fevereiro de 2022, com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Em março daquele ano, Dmitry e Nikita Mazepin foram sancionados por Reino Unido e União Europeia, tendo seus bens congelados e sua participação em empresas na Europa severamente limitada.
Curiosamente, poucos dias após as sanções, Oliver Oakes criou uma nova empresa chamada “Hitech Global Holdings” e reassumiu 100% da equipe. A transação chamou atenção por não apresentar nenhum registro de pagamento pelos 75% anteriormente pertencentes a Mazepin, levantando suspeitas de um esquema para manter o controle russo de forma encoberta.
Apesar das dúvidas crescentes, a Hitech seguiu operando normalmente e, em 2023, chegou a tentar uma entrada oficial na Fórmula 1. A FIA, no entanto, rejeitou a proposta. Em agosto de 2024, Oakes foi surpreendentemente nomeado chefe de equipe da Alpine, numa jogada que alguns interpretaram como uma manobra para futuramente integrar a Hitech à F1 via uma parceria com a escuderia francesa.
A situação explodiu de vez entre os dias 1 e 3 de maio de 2025, durante o GP de Miami. William Oakes, irmão de Oliver e diretor operacional da Hitech, foi preso nos Estados Unidos portando uma grande quantia em dinheiro vivo. A polícia investiga a origem dos valores e o envolvimento da equipe em um esquema de lavagem de dinheiro e movimentação ilegal de bens no Reino Unido.
No dia 6 de maio, Oliver Oakes renunciou abruptamente ao comando da Alpine e, segundo relatos, deixou Miami direto para Dubai. Fontes indicam que o movimento teria sido motivado pelo temor de ser detido caso retornasse ao Reino Unido, onde a investigação se intensifica.
Informações não confirmadas oficialmente dão conta de que todos os carros da Hitech nas categorias F2 e F3 foram apreendidos ao final de abril, antes mesmo do GP de Miami. A FIA ainda não se manifestou sobre como — ou se — isso afetará o andamento dos campeonatos e a situação contratual dos pilotos da equipe.
Os principais rumores giram em torno da suspeita de que os irmãos Oakes atuavam como laranjas dos Mazepin, permitindo que o bilionário russo mantivesse seus interesses financeiros na Europa apesar das sanções. A complexidade da estrutura empresarial da Hitech e o uso de paraísos fiscais dificultam o rastreamento do dinheiro.
O caso gerou enorme repercussão no paddock da Fórmula 2 e Fórmula 3. Pilotos, engenheiros e equipes rivais estão em estado de alerta, e muitos temem que a participação da Hitech seja suspensa ou anulada, impactando diretamente as corridas e a pontuação das temporadas.
Até o momento, a FIA e a Formula Motorsport Limited, entidade que organiza as categorias de base, não emitiram comunicados oficiais sobre as medidas que serão tomadas. Fontes internas indicam que há reuniões de emergência acontecendo desde o início da semana.
O escândalo representa um dos maiores abalos institucionais no automobilismo de base dos últimos anos. Mais do que uma crise esportiva, trata-se de um episódio com fortes implicações políticas, financeiras e legais, que deve ter novos desdobramentos nas próximas semanas.
FOTO: Alpine/Reprodução
